segunda-feira, 9 de março de 2020

Compulsão Política

Quando me perguntam se a situação política afetou meu trabalho no consultório, eu respondo que nunca tive tão pouco tempo para escrever. Quando a economia aperta, a primeira despesa que as famílias cortam é a do convênio médico. E isto reflete nas consultas médicas. E entre estas, a que se refere à psicologia é a mais visada.

Registrar para compreender melhor

Em que o pouco tempo para escrever influi em nossa atividade de consultório ? Registrar o que acontece no tempo em que estamos vivendo é muito importante para fazer um bom trabalho em análise e em terapia psiocológica.. Quando revejo as fichas dos pacientes e acompanho o seu progresso, eu comparo com os fatos que estão acontecendo na sociedade. Toda pessoa está inserida em contextos sociais.

Situação Econômica

Não escrever também significa que estou em boa situação, as coisas estão correndo bem no meu trabalho. Frequentemente, estou estendendo minhas jornadas em uma hora de trabalho e, eventualmente, em até duas horas.

Não entendo a razão, levando em conta que muitos psicólogos se formam por ano, e muitos tem mais títulos que eu, mas não conseguem clientes. Participo de muitos Workshops e congressos, mas não tenho nenhuma pós-graduação.

Já fui conveniada da UNIMED e da Blue Life, e hoje sou absolutamente independente destes recursos de "renda garantida". No meu caso, as pessoas, mesmo nessa enorme dificuldade econômica, pagam em dia. Eu faço pacotes e aceito o planejamento econômico da pessoa, pois é ela que está pagando.

Apesar do plano de saúde ser a primeira despesa a ser cortada do orçamento doméstico, quando a situação fica preta dentro de casa, as pessoas conseguem arranjar dinheiro, para resolver o problema. Pode ser um filho com humor alterado, um parente com stress, ameaça de separação, então as pessoas se viram.

O Caso em questão

Toda a exposição anterior foi para mostrar que, mesmo apertada financeiramente, essa paciente, cujo caso vou explicar, conseguiu dedicar parte de seus recursos para se tratar, para que sua vida não desmoronasse.

O caso é bem característico destes tempos que estamos vivendo, de mudanças políticas, sociais e de aperto econômico. Pedi licença à paciente para fazer e tornar o relato público, e ela aceitou, para que outras pessoas pudessem se reconhecer nesta situação, pois isto lhe provocou muito sofrimento.

A paciente é uma mulher com idade entre 40 e 50 anos, que vivia com marido e dois filhos, numa situação de classe média, como professora de escola particular, o marido como engenheiro e ambos os filhos estudeando em escola particular, a mesma onde ela dava aulas.

Vale observar que, nos últimos 15 anos, o salário líquido do marido não aumentou o suficiente para acompanhar o aumento dos descontos de Previdência privada, mais INSS, mais Imposto de Renda (a tabela não é reajustada desde 2014) e o Fundo de Garantia, pois o salário mínimo de contribuição aumenta de acordo com o salário mínimo nacional.

Pelo lado da paciente, como professora, o fator determinante para que ela sucumbisse à crise econômica foi a sua combatividade política no ambiente de trabalho. Sendo professora de escola particular, com um ativismo político exacerbado, adivinha quem foi escolhida para perder o emprego, quando a escola sentiu os efeitos da situação econômica ? Ela, a nossa amiga. Perdeu o emprego junto com outras 3 professoras.

Ela nunca pensou nas consequências de sua militância política, mesmo não trabalhando em escola pública, segundo suas próprias palavras:

"Eu fazia de tudo para mostrar aos colegas e diretores que tínhamos que formar alunos que prezassem a igualdade e o bem comum"

Como profissional da área eu devo comentar esta convicção, que se formou na cabeça de muitas pessoas, nos últimos 15 anos. Em primeiro lugar foi um modismo. E em segundo, temos que ter a correta noção de como as coisas são em nosso país. A busca de igualdade no Brasil encontra muitos simpatizantes entre os preguiçosos. Estamos no Brasil, convém lembrar.

E foi muito irônico, como a própria paciente nos transmitiu, ver que, mesmo uma diretoria que se mostrou receptiva às ideias de igualdade e de bem comum não pensou 2 vezes em demitir seus profissionais quando a situação COMEÇOU a ficar ruim. Nem esperaram um pouco para ver como a situação ia ficar. Logo que começou o processo de impeachment de Dilma Roussef, já começara a mandar embora.

Para vocês terem uma ideia da gravidade da situação, as escolas particulares, apesar de uma evasão escolar de 11%, por motivos econômicos, nos últimos 15 anos (média obtida em levantamentos extra-oficiais na Internet), tiveram outros motivos para a perda de faturamento. Um deles é a tábua de salvação para muitos alunos: o EJA (Educação de Jovens e Adultos).

O EJA veio de encontro à esperteza dos jovens brasileiros nascidos nos anos 1990. O aluno se matricula no primeiro ano do nível médio. Faz o primeiro semestre. Talvez até complete o segundo semestre, passando de ano ou não. Em média, este aluno está com idade entre 15 e 17 anos. Estuda em escola particular. Sua maior preocupação são as festas, as garotas, roupas, redes sociais, etc. Tomam bomba, ou abandonam os estudos. Chegando aos 18 anos, fazem o EJA, para obter o diploma do nível médio de uma form,a mais fácil, ou então menos trabalhosa. Assim, economizam muitos dias em que precisam acordar cedo, enfrentar aulas nem sempre bem preparadas.

Todos estes detalhes foram fornecidos pela paciente. Isto explica como nossa professora, a deste caso, perdeu a sua fonte de renda. E, ao mesmo tempo em que perdeu seu emprego, num golpe de economia, "matando 3 coelhos com uma só cajadada", a escola cortou o desconto dado aos filhos de professores que dão aulas na mesma escola. Os donos de escolas particulares só pensam em lucro. Cortesia, bem comum, igualdade e lealdade, que eles pregam aos alunos, deixam de existir, quando vem as dificuldades.

Obviamente, ela teve que tirar os filhos da escola particular e colocar na escola pública. E o emprego ? Como ela poderia obter a sua renda perdida ?

A primeira ideia foi dirigir para a UBER. Mas teria que pagar alguém para ficar com os filhos, ainda poré-adolescentes. Sua maior preocupação, e do marido, eram as drogas. Os meninos não poderiam ficar sozinhos. Resolveu vender produtos pela Internet. Fez uma pequena compra com parte do dinheiro da indenização trabalhista. Também abriu uma loja pelo Instagram, já que não custava dinheiroi nenhum a mais. Hoje ela vende correntinhas de ouro, pulseiras, lingerie e pingentes de ouro. E isto ajudou um pouco.

Os problemas pessoais

Mas estamos fazendo um trabalho de economia ? Não. Queremos explorar o problema psicológico desta mulher, exacerbado pela sua situação econômica, advinda de transformações sociais, tendências de comportamento, etc. As dificuldades econômicas são vencidas com planejamento e trabalho árduo.

Enquanto ela não perdeu o emprego, seu marido apenas comentava, com muito jeito, as suas posturas excessivamente inclinadas para a militância radical esquerdista. E como as posturas socialistas das escolas estavam na moda, ou seja, eram aceitas como uma ideologia geral escolar, quase como uma religião, tudo corria bem. Ela era chamada para dar uma opinião sobre a forma que seria dada aos eventos, reuniões, cursos e até do material escolar. Ela estava empregada e era uma influenciadora eficiente e eficaz.

Minha paciente defendia as ideias socialistas c9omo uma verdade quase religiosa. Mas a partir de 2014, com os movimentos e manifestações de rua, ela foi perdendo amigas e amigos, que começaram a despertar para a situação corrente. Mas como tudo ia correndo bem na escola, onde era presença constante em todas as situações estratégicas e estava bem empregada, com os dois filhos tendo o privilégio de estudar em escola particular, ela não se importava com a perda das pessoas ao seu redor. Quando se usa o saldo bancário como um termômetro da vida, o efeito pode ser devastador.

Por duas vezes, e ela se lembra muito bem, em reuniões na sua residência, ela discutiu aos gritos com pelo menos um colega de profissão, um professor, e este saiu porta afora, brigado com ela para não mais sequer dar um bom dia no local do trabalho. Ela conta ter perdido por volta de 8 amizades, próximas ou mais ou menos próximas, por conta de suas posições radicais, e estes não querem mais vê-la nem pintada de ouro.
O tratamento
A linha de tereapia foi mostrar a ela "os frutos da árvore", ou seja, o que o comportamento dela e suas ideias, a "árvore e seus frutos". O que a árvore (paciente) produziu como "fruto". Os frutos foram as amizades perdidas.

Vamos ver os efeitos em casa. Ela chegou a quase se separar do marido, por diferença de opinião, isto é, um absurdo em termos de convivência do casal. Opiniões divergentes não são justificativa para rompimento de amizade e nem de matrimônio. Ela era extremamente intolerante com aqueles que discordavam de qualquer um dos princípios de coletividade que ela aprendera nas doutrinas socialistas.

O marido, homem muito esclarecido, apesar de ter pensamentos liberais, no âmbito da economia, teve muita paciência para suportar esta verdadeira obsessão da esposa, principalmente pelo líder dos trabalhadores brasileiros (pelo menos os socialistas) cujo nome todos sabem. Desta forma, combinou com a esposa que, pelo menos entre eles, este tipo de assunto não seria motivo de brigas, principalmente por causa dos filhos. Pelo menos com ele, a mu8lher parou de brigar, pois começou a ver que poderia perdê-lo. Pelo menos um lampejo de racionalismo evitou quye ela destruísse o casamento por causa de Lula, do PT, de Karl Marx e outros.

Outrop ponto abordado na terapia, para dar um choque de realidade na paciente, foi a situação econômica em que ela estava. Será que suas ideias, das quais ela tinha completa convicção, quase religiosa, eram mais importantes que o bolso vazio, filhos em escolas ruins, a quase separação, a perda de amigos de anos, e o fato de cultuar políticos que estavam sendo pegos em crimes econômicos e corrupção ?

Fizemos a comparação entre os que idolatram artistas,  músicos e jogadores de futebol com aqueles que idolatram políticos e líderes famosos. Abvordamos a personalidade dela e comparamos com a destas pessoas. Mostrei que ela incorporou o comportamento e as ideias destas pessoas, quase como se tivesse se tornado uma delas. Ela havia deixado de ser ela mesma.

Ela mesma acabou percebendo que, antes de conhecer as ideias socialistas, não tinha nada na cabeça . Não tinha as suas próprias ideias, coisas que tivesse pensado por si só. E quando entrou em contato com o socialismo, particularmente com as ideias de Karl Marx, ela disse: "É ISSO".

O desfecho

A situação atual dela, bem como as revelações das investigações feitas em cima dos políticos do partido cujo lider ela admirava, a confrontaram com as suas ideias Os frutos das convicções, construídas na sua mente pelos pensamentos políticos, quase destruíram a sua família e sua vida econômica.

O que mais a incomodou foi que a escola em que trabalhava, abraçou a ideologia socialista, coletivista e assistencialista, mas não agiu desta forma quando a situação econômica piorou. Ou seja, foram extremamente hipócritas. Abraçaram as ideias socialistas como modismo e, no final, quando o cofgre ficou vazio, retornaram ao comportamento capitalista. Em momento algum perguntaram como ela estava, após a demissão. Os colegas, havia perdido quase todos, consequência de suas convicções. Ela queria ser mais socialista do que todos. E nem seus iguais a aceitaram.

Sua principal meta de vida, a igualdade, ela ainda guarda, mas reconhece que os métodos utilizados pelas pessoas que ela julgava preparadas, estavam e estão completamente equivocados. Na opinião dela, professora, é preciso que o Brasil e a escola evoluam muito, antes de se poder chegar a um grau de "saúde cultural", ou seja, é preciso fazer a remoção da nossa cultura das ideias de esperteza, de facilitação, remover "atalhos", como o EJA, ideias de enriquecimento rápido sem se importar se o método é honesto ou desonesto.

Em especial o EJA, que eu só vim a saber que existia pelas informações da paciente, provocou uma evasão escolar como forma de atalho, para economizar um esforço de 1 a 3 anos, conforme o indivíduo que se serve deste recurso. Ela reconheceu, ou confessou, que viu material escolar sendo comprado acima da quantidade necessária, ficando fechado em armários por um tempo, e dispensados depois em caminhões, para destino que ela ignora. Daí ela conseguiu admitir as pessoas presas por fazerem licitações fraudulentas e maracutaias que renderam muito dinheiro às direções de escolas e órgãos do governo.

E hoje

Hoje ela continua vendendo produtos pela Internet, pois é um negócio que vem dando certo. Também dá aulas particulares. Não abre mais a boca para defender o líder que ela tanto defendia e nem os teóricos que o inspiraram. Constatou que tudo foi feito em torno do dinheiro. Este foi o efeito mais significativo da terapia. Ela tem muita esperança de que o país melhore, pelo menos por que a verdade, agora, foi exposta.

domingo, 9 de fevereiro de 2020

Cultura da abstinência

Eu tinha que ter mais tempo para escrever, pois os tempos que estamos vivendo exigem o esclarecimento da mente das pessoas. E os amigos me perguntam: "Escrever para quem, se ninguém quer saber de ler ?"

Eu respondo que pelo menos alguns lerão, e estes poucos ajudarão a espalhar o que se escreve, e logo o hábito de leitura voltará com toda força. Eu acredito nisso. Se eu não acreditasse na melhora do mundo, eu não teria me dedicado à psicologia.

Motivação

O que me motivou a escrever este artigo foi a revolta. Ouvi, em uma destas manhãs, uma gravação de mulheres discutindo no programa "Observatório Feminino" da rádio mineira Itatiaia, de uma forma que me incomodou muito. O fato mais absurdo do programa foi o fato de não haver a presença de nenhum homem. Vejam, eu, uma mulher, estou reclamando da presença masculina em um programa que discutiu abstinência. E sabem por que ? Porque o programa tentava jogar a culpa pela gravidez das meninas nos meninos. Os jovens homens são os culpados, pois não usam camisinha e a sociedade só exige cuidado das meninas.

Em suma, uma abordagem feminista, e que ainda desprezou o fator preponderante, hoje, na relação entre os jovens: as drogas.

Mas vamos primeiro expor o quadro do contexto jovem de todos os tempos e complementar com o de hoje.

O Sexo

O assunto é o sexo. Não adianta discutir situação política, social e econômica, colocando fatores bem distantes do problema em questão, para tentar desviar o foco. O sexo é o foco da questão. E qual é o quadro geral que domina todos os tempos ? A chegada da adolescência traz consigo o desejo do jovem de ter o encontro carnal, puro e explícito com o outro sexo. Pobre, rico, que esteja na escola ou não, de pouca ou muita cultura, está suscetível ao fenômeno mais simples da natureza humana:

"entrou em contato com o sexo oposto, o resultado é o ato sexual"

Quantas campanhas de prevenção já foram feitas ? Hoje os pais falam abertamente do assunto, e o que aconteceu ? Aos treze anos vejo pacientes jovens que já se cansaram da prática do sexo. O caminho da ampla divulgação deu errado e isto é fato. Educação sexual nas escolas só serviu para acender ainda mais a curiosidade do jovem.

Prevenção

Deixemos a utopia, a simulação do ideal. Não são só os meninos que se descuidam e até repudiam a camisinha. As meninas também não gostam. Preferem tomar injeções e tomar os comprimidos do que fazer sexo com aquele intermediário incômodo. Elas querem a sensação integral, sem atenuantes.

Então vem estas feministas, fora da realidade, dizer que os meninos tem que se previnir. Pois bem, ainda existe o fator das drogas. Os jovens não fazem mais o sexo em uma situação de consciência plena. Quase a totalidade deles fuma pelo menos um cigarro de maconha antes de sair de casa, e fuma mais um antes do sexo, pois dizem que a sensação é ainda melhor.

O fator drogas foi completamente ignorado na discussão quase infantil tendenciosa e vergonhosa que ouvi na gravação do programa de rádio citado.

Senso comum

Quando o sexo era um tabu, havia meninas que ficavam grávidas, sim, mas não havia tantas como hoje. Os jovens ainda chegava à idade adulta gostando do sexo e fazendo-o de forma sadia. Não havia nos consultórios tantos jovens com desinteresse por sexo e até pela vida, não achando graça em nada e, acima de tudo, NÃO HAVIA JOVENS TOMANDO REMÉDIOS CONTROLADOS para conter sua ansiedade e seu medo perante o mundo.

Se temos, na vida, algo que é difícil de se controlar, pela sua exigência de maturidade, o mais aconselhável é manter este algo como um tabu.

Em sua obra, Freud cita um grupo humano em que o genro não podia sequer dirigir a palavra à sogra, para evitar o nascimento possível de uma relação mais profunda entre eles.

Falar abertamente de sexo, para os jovens, deu errado. Isso produziu jovens que tem suas primeiras experiências aos 11 anos, vejam que absurdo. Eles começam a praticar algo sério e necessário para o desenvolvimento mental em uma idade em que sequer o corpo está totalmente formado, com consequências psicológicas que ajudam a manter nossos consultórios cheios.

Alerta

Se existirem psicólogos e profissionais de ramos relacionados defendendo a educação sexual muito cedo, eu digo com certeza que o interesse deles é pelo lucro, pelos seus ganhos. Tudo tem o seu tempo.