terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Freud e a figura de Pai

De Freud podemos dizer com segurança que foi um gênio.

Mas principalmente os gênios tem os seus desvios de conduta, de personalidade, transtornos obsessivos e traumas de infância. O pai da psicanálise também adquiriu traumas de infância, notadamente de RELACIONAMENTO COM O SEU PAI, que influíram nos argumentos que ele utilizou em seus trabalhos relacionados à Autoridade.

Esta linha investigativa foi seguida pela autora do livro "Porque Freud rejeitou a Deus" (Ana Maria Rizutto). 

Explicando, primeiramente, o mérito do trauma, mencionamos um dos grandes problemas da psicologia, do qual Freud não pode escapar. A psicologia tem como estudioso o próprio objeto de estudo. Em outras palavras, temos um homem (psicólogo) estudando a mente humana. O estudioso não tem como não ser subjetivo, filtrando as próprias emoções da mente pelas suas emoções.

O argumento de Rizutto

Freud ganhou uma Bíblia de presente de seu pai, em três volumes, com 500 ilustrações que se referem ao texto. Em uma exposição denominada "Antiguidades de Freud". A maior parte desta coleção evoca antiguidades relacionadas ao texto bíblico. Ao constatar tal coisa, a autora diz:

Seguindo o método de investigação do próprio Freud, explorei as circunstâncias de seu colecionamento, o significado pessoal explícito dos objetos, seus prováveis motivos inconscientes e a satisfação consciente que os objetos proporcionavam ao seu proprietário (p. 13).

A tese de Freud em relação à religião é que:

a religião perpetua a ilusão infantil de estar protegido por um pai bondoso levou-o a uma busca de libertação desse anseio considerado, por ele, como infantil.

Isto bem parece com o conflito dos adolescentes, quando estão tentando se desligar dos valores transmitidos por seus pais, sejam quais forem. É a idade da confrontação, os jovens dão o contra em tudo.

A partir desta afirmativa de Freud, a autora passou a pesquisar quais fatores psíquicos levaram Freud a converter a sua ideia de um Deus que merecia ser louvado e pregado para aquele que agora, quando adulto, ele acusava a ser o produtor (é preferível dizer mantenedor) de ideias infantis.

Freud, como muitos jovens judeus alemães, teve muita dificuldade em produzir uma relação afetiva com o seu pai. Ao unirmos a reverência e seriedade judaicas com a frieza e dureza germânicas, obtemos uma figura de pai quase inacessível aos filhos.

A autora então prossegue em suas conclusões:

a dor da pequena criança [de Freud quando criança] levou à insistência veemente em que todos devemos desistir de um Pai-Deus, incapaz de proporcionar qualquer proteção ou consolo. O sofrimento pessoal de Freud se tornara articulado em sua teoria sobre a religião para toda a humanidade. (…) Sua descrença desafiadora expressava a dimensão de sua integridade psíquica e também de sua coragem e de sua capacidade de sublimação: transformar o profundo sofrimento da criança e do adolescente numa nova ciência que abriu os horizontes inexplorados da mente humana. Deus fora substituído pela razão de Freud. O homem desprotegido criara sua própria autoproteção” (p. 252).

Freud transformou uma experiência pessoal em norma para todos os homens, produzindo uma geração de jovens magoados e descrentes em Deus.

O que Deus evoca nas pessoas

Existe uma parcela da população, que expressa suas ideias em redes sociais, cuja ideia de Deus é de uma muleta para as fraquezas humanas. Elas dizem que a Religião é a ferramenta para os fracos, que precisam da ideia de um ser superior, capaz de preencher as "lacunas" existentes neste tipo de pessoas.

A explicação de Rizutto pode se aplicar a esta faceta do problema. O que buscam estas pessoas em Deus para preencher estas "lacunas" ? Se relacionadas com o pai, como diz a autora, já identificamos pelo menos a natureza das mesmas: afeto, sensação de pertencimento, autoridade compreensiva. Mas e os que não procuram, ou que acham que não existe em seu próprio ser estas lacunas ? São eles bem resolvidos ? Não necessariamente. Nestas lacunas pode se esconder a MÁGOA. Nossos traumas psíquicos geram, inevitavelmente, a mágoa. Se esta não existisse, seria muito fácil perdoar as pessoas que nos tenham ofendido.

Se aplicarmos o exemplo de Freud, a contraprova confere. No fundo Freud tinha mágoa de seu pai. Associando as imagens que evocavam esta mágoa na Bíblia que seu pai havia lhe dado, o presente substituíra o seu doador: o Pai. E como a Bíblia evoca a lembrança de Deus, a associação estava feita. Freud transferiu a mágoa paterna para Deus.

O Deus maldoso

Ainda existe uma outra forma de associação possível neste horizonte Freudiano de possibilidades. O leitor da Bíblia pode ficar magoado com as múltiplas mortes que ali são citadas. E o motivo alegado ? O pecado. Ora, o indivíduo, imbuído deste espírito adolescente, que só diminui, mas não morre, pergunta a si mesmo: "mas que pecado ? Não existe nenhum pecado. Deus diz que meu sofrimento nesta vida, e de outros que me antecederam é fruto do pecado ?"

Quando o indivíduo não consegue aceitar este motivo para seu sofrimento e angústia, tão humanos quanto comer, dormir e respirar , ele desenvolve mágoa contra Deus. E para não revelá-la, ele simplesmente nega o acusador: Deus. É mais fácil.

É melhor MATAR o acusador do que enfrentar a ACUSAÇÃO.

O futuro 

Hoje, com esta geração altamente contestadora e revisionista que está sendo educada com um mundo de informação oriunda de gente também revisionista, estamos produzindo uma massa de espécimes para experimentação, ou seja, vamos ver quais resultados sociais esta geração vai produzir, sendo tão livre, tão sem limites.