domingo, 13 de maio de 2018

O bem estar social traz a paz ?

No início dos governos populares (Lula e Dilma) eu mesma estava muito esperançosa. A realização desta esperança seria, no âmbito da minha atividade de orientar as pessoas no terreno da psiquê, a meu ver, uma maior detecção de ânimo e de otimismo frente a uma situação social que pretendia ser arrumada. Em outras palavras, melhorada a condição social, haveria melhoria na qualidade das condições psicológicas das pessoas que frequentavam (em muitos casos a palavra é esta mesma) meu consultório.

Como possuo convênios, também esperava um aumento no número de pacientes de baixa renda, para virem ao consultório compreender seus problemas internos, agora que as condições econômicas melhoravam para esta classe.

Mas, à medida em que o tempo foi passando, e o número de pacientes realmente veio aumentando, pude botar fenômenos estranhos e diversos do que eu esperava. Aqueles que já frequentavam o consultório, passaram a narrar não mais as suas dificuldades (como era esperado), mas pequenos conflitos fúteis da vida cotidiana, mais próximo do terreno da agressividade. Agora que a situação econômica ficara satisfatória, as preocupações se deslocaram para briguinhas com colegas de trabalho, antagonismos, competitividade desenfreada, e problemas semelhantes.

Eu esperava uma maior preocupação com o crescimento interno que as próprias pessoas teriam, melhorada a situação econômica. O fenômeno também veio misturado com a chegada das redes sociais e suas consequências. Os pacientes, volta e meia, ameaçavam tomar atitudes agressivas com aqueles que atingissem, mesmo de maneira bem leve, seu orgulho, sua opinião e suas convicções.

Índices de Violência

A estatística da violência,.ao invés de diminuir, veio aumentando de 2005 a 2015, segundo o IPEA (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicada), apesar da melhoria das condições sócio-econômicas. Isto tem dois componentes: a maneira como foi formada a "civilização" brasileira e os valores que ela deveria buscar e não busca.

Como poderíamos nos afastar do tema, não vamos nos aprofundar na Sociologia, mas tão somente procurar achar as razões no indivíduo.

Enquanto o indivíduo está preocupado com a sua sobrevivência, sua cabeça fica ocupada, quase 100% do tempo, em obter os recursos econômicos para satisfazer as suas necessidades básicas. Quando esta preocupação se acaba, ele procura reforçar o seu amor-próprio (no caso mais evoluído) ou a sua capacidade de crescer profissionalmente (foco na carreira) ou então procura valores que reforçem, pura e simplesmente, o seu ego.

Traduzindo este enunciado para a sabedoria de nossos avós, temos o ditado dos antigos:

CABEÇA DESOCUPADA, OFICINA DO CAPETA

 É triste constatar que toda a ciência psicológica, mesmo com o auxílio da estatística e dos pós-doutorados, chegue apenas naquilo que a sabedoria popular, por pura observação, já vem dizendo há anos.

Depois que os brasileiros se libertaram da sua preocupação sócio-econômica, passaram a procurar propósitos banais para a sua vida cotidiana.

O importante é ser feliz

As novas gerações estão se preocupando, depois de ter o que comer e vestir, com aquilo que as deixa feliz. A carreira de sucesso, o conforto desmedido e obter fortuna, deixaram de ser preocupação. Isto pode ser facilmente constatado na geração denominada de "Milenium", ou seja, os nascidos nos anos 2000, com raras exceções. Os jovens que passam pelos consultórios não se preocupam mais com o seu futuro profissional, e nem sequer com o econômico. Eles afirmam:

EU QUERO FAZER APENAS O QUE ME DEIXA FELIZ

Isto diferencia os jovens de 1940 a 1980, cuja ênfase, no pensamento, era a carreira. Ter sucesso e dinheiro para viver bem.

Não gosto deste chavão de que as novelas são as culpadas, mas posso dizer que elas contribuíram enormemente para a difusão deste tipo de pensamento. Preocupadas em mostrar os excessos de determinadas atitudes das pessoas competitivas, elas acabaram por reprovar completamente o benefício de uma atitude de preocupação com o futuro econômico pessoal e com a carreira, por consequência.

Conclusões

A melhoria das condições sociais é um fenômeno coletivo, promovido pelo estado, e não tem consequência obrigatória nas avaliações e na ótica dos indivíduos. Como já mostramos aqui, as escolhas dos indivíduos é que determinam o caminho que vão seguir (Escolha Individual).

Indivíduos de personalidade fraca pautam suas escolhas com base em fenômenos sociológicos, e é isto que estamos observando ao longo destes últimos 8 anos, em relação ao fator combinado das melhorias sócio-econômicas.

A solução é o reforço dos valores individuais combinados à preocupação com o coletivo.