segunda-feira, 8 de julho de 2019

Fenomenologia do Comportamento Infantil no Brasil dois mil

Muito havia sido prometido para este século XXI. Tecnologia, a melhora da vida das pessoas e um amadurecimento e consciência que nos colocariam como raça altamente evoluída. Podemos reconhecer, neste tempo de agora, estas características ? Cumpriram-se as expectativas tão elevadas dos comentaristas ?

Uma clínica de psicologia fica suscetível ao contexto da época, com seus problemas e desastres, assim como qualquer outro tipo de atividade. Os recentes acontecimentos no Brasil, com esta avalanche de novidades na política, principalmente, nos surpreenderam em termos do comportamento desenvolvido por uma parte da população. A situação é tão grave, que alguns, mesmo sem dinheiro, vem se tratar e fazem empréstimos ou entram no cheque especial, pois estão muito angustiadas, gerando problemas no trabalho ou em casa, e sendo cobradas por suas atitudes. Vou me referir a estes indivíduos como "politicamente afetados", para facilitar a referência no texto.

Choro

É claro que um paciente amargurado, angustiado, não escapa de chorar durante a terapia. O psicólogo é, principalmente, um ouvinte por excelência. Mas o comportamento de muitos pacientes tem passado do choro de desabafo para o choro compulsivo.. Alguns estão até medicados por um psiquiatra e vem com a recomendação de também fazer terapia. Mas o motivo é novo.

Como eu disse, "uma clínica de psicologia fica suscetível ao contexto da época". O choro agora, frequentemente, está ligado ao fato do ex-presidente Lula estar preso. Estão espantados ? Os mais exaltados me perguntam: "Como é que podem ter prendido um homem tão bom e honesto como Lula ?" Meu papel não é responder. Eu pergunto a eles como veem a figura do ex-presidente, para comparar com os traços do paciente e trabalhar em suas personalidades e comportamentos.

Na época em que morreu Airton Senna, uma enorme quantidade de pacientes desenvolveu neuroses compulsivas, e choraram copiosamente, na minha frente. E o tratamento de alguns levou 4 anos. Foi um dos mais graves períodos para mim. Os pacientes me telefonavam (para os mais graves eu abri esta exceção) frequentemente. Eu não tinha smartfone e nem whatsapp para poder dar um apoio mais efetivo. Havia somente a secretária eletrônica.

Birra

Alguns extrapolam o choro e partem para birra, para aspectos políticos. Meu papel não é discutir política. Eu foco na causa: "por que isto está te incomodando tanto ?"

Os mais exaltados, se pudessem, chutariam as cadeiras da minha sala. Chegam a gritar. As cortinas ajudam a abafar o som. Coloquei tapetes por recomendação de amigos que gravam em canais de Youtube, e o efeito foi muito bom. Para terminar a sessão, tenho que acalmar estes pacientes por 10 minutos, para não saírem transtornados.

Figuras infantis

Uma parcela dos pacientes não chora. Eles exibem um outro lado: o irônico, o debochado. Fazem a figuração do presidente Bolsonaro como um palhaço. O palhaço é uma figura que revela muito sobre o imaginário infantil. Algumas crianças tem medo de palhaços, enquanto a maioria gosta muito deles, por serem a imagem daquilo que é engraçado. Já os homicidas, especialmente os matadores de policiais, tatuam a figura do palhaço no peito ou no braço. Ou seja, a criança tem uma identificação e gosta de palhaços. Somente um episódio traumático ou um estranhamento de alguma caracterização do mesmo produzem o medo que algumas delas tem por este tipo de figura.

Mas existe outro elemento, presente nas respostas que os admiradores de Lula dão em redes sociais, particularmente no Twitter e no Facebook). Vou reproduzir a expressão por que ela é a usada:

"acreditar em mamadeira de piroca"

Esta expressão é uma referência a um ato libidonoso, para diminuir os opositores de Bolsonaro. Mas é extremamente reveladora do que vai pela mente da pessoa que a profere. Nossas metáforas são os elementos que revelam nosso universo interno. O que a pessoa diz, e a forma como o faz se complementam.

Interpretação da realidade

O modo como estes pacientes "politicamente afetados" estão encarando os fatos políticos, divulgados nos jornais é uniforme. Eles creem num Lula TOTALMENTE INOCENTE. Bem, eu não colocaria minha mão no fogo por nenhum político, pois estamos no Brasil, e eu conheço profundamente os aspectos psicológicos deste povo, notadamente em cidades grandes, com todas as facilidades disponíveis.Não posso dizer nada sobre o comportamente em pequenas cidades, pois não é o meu contexto de trabalho.

O fato de fugirem, em sua interpretação, de um aspecto que é NOTORIAMENTE HUMANO, ou seja, do indivíduo poder ser tentado a ganhar um pouco a mais, e até de roubar uma diferença, como é o caso de nossos políticos, com tantos casos expostos no jornal, caracteriza uma FUGA DA REALIDADE e MESCLAR A REALIDADE COM A CRENÇA PESSOAL. Isto é conhecido como uma forma atenuada de ESQUIZOFRENIA.

Segure esta afirmação, enquanto vemos outro aspecto complementar.

Você já observou uma criança brincando. Os brinquedos e brincadeiras são antecipações das situações que ela vai encontrar em sua vida real. Quando estão brincando de polícia e ladrão (meninos) e com bonecas (meninas), elas mergulham naquele univberso que compuseram naquele momento, quase como se aquilo fosse a realidade. A comprovação vem quando você tenta tirá-los daquela atividade quando ainda não estão cansados e num estado de mergulho psicológico profundo. Eles choram até o ponto de fazer birra. É um estado bem próximo da esquizofrenia. Tirá-las da brincadeira é quase como lhes impor uma morte.

Portanto, unindo o aspecto que falamos da Interpretação da Realidade com o trauma do fim da brincadeira, chegamos à conclusão de que estes "politicamente afetados" estão em uma patamar de esquizofrenia. Compreendam por que estou assustada com o momento presente. Estas pessoas PODEM, sem dúvida, chegar a estágios extremados.

Não saber perder

Durante a campanha eleitoral de 2018, e mesmo nestes seis meses que a sucederam, os ânimos dos "politicamente afetados" se acirraram. Perder a eleição e ter o líder do partido a que a maior parte deles pertence (existem os militantes e os simpatizantes) preso simplesmente acabou com a estrutura
psicológica destas pessoas.

Esta parcela de indivíduos desaprendeu o que é saber perder.

Submeti todas elas à terapia dos jogos, e pude observar que a totalidade, não maioria, vejam bem, não sabe perder. Fiquei espantada, pois experimentos raramente dão unanimidade. Me perguntei se os brasileiros estariam todos assim, mas felizmente tenho tanto crianças como adultos em um nível normal quanto a esse aspecto.

Lamúria adolescente

Para esse grupo de pessoas, em análise, não é apenas a política que está ruim. Tudo, na vida delas, piorou com a entrada do presidente Bolsonaro. Adolescentes são assim. Como eles, os "politicamente afetados" já estão acordando mal humorados. Quem comia pouco passou a comer demais, e quem comia muito passou a não ter fome, pelo menos pela manhã.

Para se acalmar, os que fumavam estão fumando mais. Estão num permanente estado de ansiedade, e como disse no início do artigo, estão tomando remédios para diminuir esta condição. Nas redes sociais, estão colocando, compulsivamente, materialo defendendo o ex-presidente Lula, a ponto de prejudicar os estudos e até o namoro.

E, finalmente, neste aspecto, estão reclamando constantemente das coisas.

Regozijo com o mal dos desafetos

O indivíduo adulto aprende a pesar racionalmente os prós e contras, o valor das pessoas, a educação e o trato com os semelhantes.; Em especial, quando bem adultos, aprendem a não rir da "desgraça alheia", pois sabe que isto não lhe faz bem.

Os "politicamente afetados", a cada escândalo, cada falha do presidente, e agora do ministro Sérgio Moro, ficam como crianças quando estes fatos acontecem. Eles realmente acreditam que tudo vai mudar e Lula vai voltar. Depois de alguns minutos caem novamente no estado de ansiedade, achando tudo ruim.

Senso de proporção

Piaget, em sua teoria, diz que o amadurecimento é "a marcha do organismo em busca do pensamento lógico". As impressões são substituídas por conhecimentos racionais, frutos da experimentação formal e social.

O período que nos interessa é o chamado "Período Concreto" de Piaget, que vai de 7 a 11/12 anos, em que a criança começa a perceber um senso de proporção, expresso de forma excelente pelo experimento dos dois copos, um largo e baixo e outro estreito e alto, no qual se pede que ela tente dizer qual tem mais água.

O que isto tem a ver com o nosso indivíduo "politicamente afetado" ? Eu testo estes pacientes, para analisar como está o dano psicológico imposto aos seus sentidos e à sua razão, com a pergunta:

"Você tem noção de que estamos considerando quase 16 anos de governo ?"

Não peço que eles entrem em detalhes, mas que sintam a proporção de tempo em relação ao novo governo. Mas eles dizem que os "danos" deste governo são mais sérios. Esta é uma das perguntas chave com que vou testando a melhora ao longo do tempo.

Bem, a conclusão deste ponto (senso de proporção), é que os fatos afetaram a capacidade destas pessoas medirem a proporção entre as causas e efeitos e até da proporção entre os efeitos dos contextos anterior e atual, revelando mais uma vez a infantilização do estado do grupo analisado.

Síntese psicológica

Estes 8 fatores são os mais palpáveis para o leigo compreender o que está acontecendo com estas pessoas. Em suma, um processo de infantilização, que explica muita coisa de Brasil.

Confesso-me não surpresa e nem espantada, mas estarrecida com o retrocesso mental das pessoas frente à situação política atual. Até aqueles que podem minimizar os males para a nação, apesar de não procurarem tratamento, e de estarem em cargos chave, estão dentro deste grupo.

Quem assistiu a reunião do senado e a reunião da câmara com o ministro Sérgio Moro pode observar alguns potenciais individuos "politicamente afetados". Os vídeos disponíveis, se o leitor interessar, podem demonstrar os aspectos expostos.