terça-feira, 17 de outubro de 2017

Os homens e os animais à luz da organização e das neurosciências

Me admira o ser humano ser tão inteligente, mas tão propenso a comparações estapafúrdias, numa simplicidade que nos faz duvidar desta capacidade que o seu aparelho cerebral lhe dá.

No centro destas comparações estapafúrdias, primárias, vem sempre algo como:

"Mas nós somos animais !"

Pensamento primário

Este pensamento essencialmente materialista, fruto da contaminação Darwinista, que não encontra mais nenhum respaldo nas neurosciências, é uma desculpa muito infantil, para comportamentos que tem origem simplesmente em uma educação deficiente ou em uma preguiça em seguir uma educação eficiente.

Se o indivíduo quer explicar algum comportamento reprovável, perverso ou inadequado, recorre a esta desculpa de quem não utilizou o mínimo de inteligência que brota de um cérebro altamente evoluído, para absorver a educação e o consequente controle sobre si mesmo:

Educação + Cérebro sadio = Autocontrole

E, note-se, categorizei claramente o Cérebro em "sadio", para excluir aqueles que vem com uma falha biológica de nascença, em que algum ou alguns de seus subórgãos vem com uma atrofia, hipertrofia, lesão ou quantidade de fibras de ligação a outros órgãos cerebrais inferior ao que é considerado normal, fruto ou não de anomalias genéticas ou traumas físicos sofridos em virtude de algum evento no início da vida ou no período anterior à fase adulta.

Um indivíduo considerado considerado como mentalmente sadio, após vários testes e entrevistas, que utiliza este argumento de sermos animais, está dandoi uma desculpa bem infantil para seus atos inadequados.

Uma coisa chamada Córtex

Como resultado de dissecações de cérebros de cadáveres e dos exaustivos estudos da Biologia Molecular, somos agora sabedores de uma diferença biológica bem pronunciada entre o cérebro dos animais e dos humanos. Nos animais, o cérebro é organizado em três camadas neuronais funcionais, enquanto que no homem esta organização se constitui de seis camadas funcionais. Esta "pequena" diferença, torna a complexidade cerebral humana muito maior do que o que poderia ser considerado como APENAS O DOBRO.

As combinações de ligações e as interações possíveis, quando ainda consideramos os variados tipos de neurônios e as variadas combinações de ligações entre estes tipos tornam o cérebro humano um equipamento de controle de fluxos elétricos, parte composto de excitadores, parte composto de inibidores, capaz de aprender tarefas complexas e de fazer deduções e inferências que um animal NUNCA SERÁ CAPAZ DE FAZER.

Humanos possuem uma porção cerebral altamente especializada, que é capaz de planejar ações medindo causas e consequências, resolver problemas e controlar processos construídos pela capacidade de planejamento citada, o Córtex préfrontal, ausente nos animais.

A Organização Social

Veja a comparação em grau bem primário entre os graus de organização Animal e Humana:

Estas camadas não contam como as três do córtex animal nem como as seis do ser humano. São camadas abstratas de organização dos membros de cada uma das classes animal e humana.


Animais não formam uma Sociedade. A matilha, ou bando, se estabelece em um território, mas não com o fim de uma ocupação e fortalecimento da sua "sociedade", e sim com o fim de garantir o alimento de seus membros.


Já os humanos formam não só uma sociedade, como também uma Nação. A nação se caracteriza por língua e costumes comuns. Quando bem estruturada, forma um país, uma identidade política, envolta por uma fronteira abstrata das Leis. E as Leis deste país vem de princípios ainda mais abstratos consolidados em uma Constituição.

Instintos

Quando se fala em Instinto animal, estamos apenas nos referindo a um conjunto de impulsos que começam nos órgãos de sentido e terminam em uma ação de enfrentamento ou fuga resultante.

Quando um indivíduo da espécie Homo sapiens (humano) se refere a instinto, ele está se referindo ao fruto combinado de entradas dos seus sentidos, combinadas às memórias de seu Córtex Auditivo, Visual e Olfativo, processadas pelo Córtex préfrontal, e que podem resultar em fuga física, enfrentamento primeiramente verbal, possível arbitramento por terceiros, em perdão ou em condenação de seu próprio ato anterior ou de terceiros.

O ser humano usa o verbo, o falar, a linguagem para iniciar conflitos ou projetos, ou mesmo concluí-los, antes que o enfrentamento se torne físico e possa resultar em ferimentos ou morte.

Não existe comparação entre o instinto animal e o instinto humano, mais adequadamente designável de INTUIÇÃO.

Condicionamento

Os animais podem ser condicionados em um procedimento conhecido como ADESTRAMENTO, onde um conjunto de causas sempre terá um conjunto correspondente de consequências. Já os humanos sofrem um processo denominado EDUCAÇÃO, onde o mesmo conjunto de causas pode provocar consequências diversas, dependendo do contexto, dependendo da maturidade atingida e do conhecimento adquirido.

O ser humano pode ser adestrado, porém através de restrição de liberdade, tortura, lavagem cerebral, mas com a perda da sua identidade, o que vai excluir o indivíduo resultante do processo do rol de iondivíduos genuinamente humanos e inteligentes.

A imprevisbilidade em algumas circunstâncias é característica quase inexplicável dos seres humanos, pois estes podem ter revelações, intuições, "insights", que os colocam no patamar de seres verdadeiramente pensantes, não-máquinas de reação.

Espiritualidade

E, em última instância, algo impossível de ser atingido somente através das vias físicas de ligações sinápticas entre nossas unidades fundamentais do sistema nervoso, conhecido como neurônio, a ESPIRITUALIDADE.

Espiritualidade, na minha humilde compreensão, é a sujeição voluntária a ALGO MAIOR. A tendência à entrega do próprio poder de autodeterminação a terceiros, que fez com que os grupos humanos instituíssem os reis, voluntariamente, porque encontraram em alguns pouquíssimos indivíduos com força e determinação, a confiança para que estes os liderassem, um dia extrapolou o limite humano, e o ser humano encontrou em um ENTE INVISÍVEL, a Autoridade Eficaz para si mesmo.

Esta entrega não combina com um ser humano que é mais propenso ao egoísmo do que ao altruísmo, e mais propenso mandar do que a ser mandado, além de mais crente no visível do que no invisível. Não, absolutamente não é possível a este tipo de ser ter convencido a si mesmo da Espiritualidade. O material humano que frequenta os consultórios de psicologia e psicanálise não é candidato a achar o Espiritual por si mesmo, e a estatística mostra isto claramente.

O materialismo e a crença no visível é dominante. Avivamentes espirituais se dão muito raramente. O material dá muito mais segurança à esmagadora maioria das pessoas. A ajuda ao semelhante é muitíssimo rara.

Mas em que pesem os argumentos factuais, a tal Espiritualidade teima em se manter viva numa minoria.

Temor da morte

Neste quesito, os animais, mesmo escolhendo em primeiro lugar, a fuga, irracionalmente se entregam ao enfrentamento, na defesa dos filhotes, mesmo em contextos visivelmente desvantajosos, como contra predadores bem maiores e mais ferozes, com resultado satisfatório. Mas isto se dá por puro instinto de preservação da família ou bando.

Já o ser humano pode ter este Temor  da morte mesmo bem jovem e distante de perigos. Por que ? Como explicar um medo de consequências na ausência de suas causas ? Sem estímulo nenhum que sugira perigo, e na ausência das anomalias biológicas citadas em "Pensamento Humano", o homem pode ser tomado de terror. Este comportamento é que traz pacientes aos consultórios médicos.

Animais não apresentam este comportamento. Daí, quando ouço dizerem que "as pessoas procuram a Espiritualidade pelo medo da morte" ou "as pessoas procuram uma explicação para o fato de estarem vivas", frases que parecem opostas, mas são fruto da mesma coisa, digo que este tipo de pensamento não coaduna com as características humanas de materialismo, egoísmo e dominação. A Espiritualidade tem que ser inerente ao ser humano, senão seria impossível ela se manifestar a partir de seu interior.

Considerações Finais

Não entraremos em detalhes técnicos, mas o leitor pode procurar na literatura técnica que trata do cérebro os elementos concretos em que se baseiam nossas argumentações. As expressões chaves são "Sistema Límbico" e "Córtex pré-frontal". E as provas da superioridade cerebral humana estão ao nosso redor, desde o microchip, passando pelo celular, até os transatlânticos e complexos viários que possibilitam a circulação em nossas grandes cidades.

Ainda em relação às nossas cidades, fica patente a organização humana quando a sociedade atinge um número de membros da ordem de milhões.

Conclusão

Não existe um conjunto razoável e racional de fatores que possam basear a afirmação de que os homens são animais, pois os equipamentos e comportamentos exibidos pelo homem estão distantes anos-luz destes últimos.