sexta-feira, 9 de março de 2018

O perigoso senso comum

Esta é a Era das Opiniões. Você pensa que é a Era das Redes Sociais. As redes são ferramentas. Estas propiciaram o surgimento descontrolado de opiniões variadas, com ou sem embasamento, com ou sem comprovação, com ou sem imparcialidade. Por isso chamei de Era das Opiniões.

Reflita sobre esta "democratização da opinião". Uma coisa é proferir juízos sobre as situações que estamos vivendo entre quatro paredes, com familiares, amigos ou colegas. Outra coisa é propagar irresponsavelmente estes juízos para o incalculável público da Internet. Esta propagação irresponsável pode estabelecer um perigoso SENSO COMUM, senso das massas, senso de cunho amador, juízo sem raiz profunda na lógica, na razão e num conhecimento que veio sendo cultivado sequencialmente, com sentido na linha temporal da história da humanidade.

O que é o senso comum

Numa definição bem simples, o Senso Comum é um conjunto de conhecimentos adquiridos dos parentes, dos conhecidos, dos professores e outros entes próximos, que nos possibilita viver sem a necessidade de conhecer as Teorias Formais dos vários ramos da ciência. É como uma "ciência geral do mundo".

Mas não dissemos que este senso não tem " raiz profunda na lógica, na razão e num conhecimento que veio sendo cultivado sequencialmente, com sentido na linha temporal da história da humanidade" ? Nossa família não veio sendo formada em uma linha temporal ? Ela não está inserida na história da humanidade ? Todas as famílias não estão na mesma situação ?

A incerteza e a inexatidão do senso comum residem na forma como nossas famílias viveram em momentos importantes da história. Umas podem ter vivido estes momentos intensamente, e outras superficialmente, enquanto outras simplesmente ficaram alheias aos acontecimentos. É preciso saber qual é o nível crítico e analítico das pessoas que compõem nossas famílias. É preciso saber quanto de suas mentes ficava ocupada com o entretenimento, com o bem estar e com opções de fuga da realidade. Estamos discutindo ...

Engajamento na história

O envolvimento da mente na realidade dita o engajamento no momento histórico que está se estabelecendo, e formando a consciência coletiva. Desta forma, quanto maior for este envolvimento, mais precisa será a Visão de Mundo. O Senso Comum tem a perniciosa característica de fundir conhecimentos genéricos (aqueles absorvidos de quem nos é próximo) com a superfície dos fatos que nos estão sendo apresentados no momento vivido. Isto forma uma "Teoria Simplificada" de como o mundo funciona.

Os ramos do conhecimento humano tem Leis, Normas, Metodologias e Regulamentações que só são absorvidos após muito tempo pelo público em geral, até que se chegue a utilizar expressões verdadeiramente científicas, estabelecidas pelos doutores. Doutores são aqueles que dedicam grande parte de seu tempo a compreender as Leis, estabelecer Normas, utilizando Metodologias e Regulamentações, para dominar um ramo do conhecimento humano. Quem se dedica a um ramo do conhecimento, torna-se um expert neste ramo, quase como se sua cabeça fosse um mecanismo especializado daquele ramo. Um técnico de futebol é um expert desta modalidade de esporte.

Áreas do Conhecimento

Com o acúmulo de conhecimento, pela necessidade de sobrevivência, o homem fez expandir os ramos do conhecimento, em número e em profundidade, e esta especialização chegou até o status que hoje conhecemos pelo nome de CIÊNCIA.

Mas nem a Ciência basta. Os gregos foram os primeiros a querer mais, ou seja, eles adquiriram a pretensão de querer saber a ORIGEM e o SIGNIFICADO da Existência Humana, vejam só. Em busca desses objetivos, os gregos começaram a propor os fundamentos da FILOSOFIA. E quando perceberam que nem todas as respostas para a Existência Humana estavam na Filosofia, os gregos, influenciados pelas culturas vizinhas e constatando que havia algo mais, conceberam a sua Religião, ainda que mais calcada em valores humanos, como podemos perceber no comportamento dos deuses de seu Panteão.

Religião

Os gregos não estavam preparados para uma Religião Espiritual, e sim para uma religião filosófica. Mas devemos louvá-los pelo fato de terem alcançado um patamar religioso, mais que unicamente uma Filosofia. No oriente distante da Grécia, os povos estavam estacionados na Filosofia. Budismo, Xintoísmo e Hinduísmo são mais Filosofias do que propriamente Religião. Buda, por exemplo, é um ser humano cultuado como ícone, que inspira seus seguidores (não adoradores) a seguir uma filosofia, e não uma religião.

Já os hebreus, considerados mais primitivos do que os gregos, não estabeleceram um modo de vida a custa de pura Filosofia, ou de Filosofia religiosa. Eles apresentaram um Deus, totalmente espiritual, até severo em relação aos homens, que lhes exigia um comportamento seriamente ilibado, quase impossível de ser praticado, e que prometia esta espiritualidade aos homens.
E retornando ao senso comum ...
Então, munido de uma mistura dos conhecimentos de parentes, amigos, colegas, conhecimentos dos ramos mais próximos de sua vida, também de um pouco de filosofia e de Religião GERALMENTE MAL COMPREENDIDA, o homem comum estabelece o seu Senso, sua ideia, de vida.

Diagnóstico

E como a maior parte da humanidade não busca a profundidade das ideias, mas apenas aquilo que responde às suas aspirações imediatistas, fruto de uma abordagem preguiçosa dos problemas e da própria vida, o Senso Comum se apresenta, sempre, muito impreciso e prejudicial às situações críticas.

Uma destas situações foi mostrada no episódio bíblico do apedrejamento da prostituta, só evitado por um Jesus atento, que desferiu a poderosa frase: "aquele que não tiver pecado atire a primeira pedra". Ou seja, Ele evitou uma morte que estava prestes a ser consumada, pois o povo fez seu julgamento unicamente baseado em seu Senso Comum.