sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

Aspectos teóricos e objetivos da Autoridade

Em oportunidade anterior abordei a questão da Liderança. Por que fiz isso ?

A psicologia, como qualquer outra atividade profissional, está sendo muito cobrada no auxílio ao Coaching, aos Treinamentos Empresariais e à orientação profissional. Se um profissional quiser ter retorno mais rápido, hoje em dia, basta ele focar no Universo Empresarial. O nosso foco, no entanto, continua sendo o pessoal. O crescimento pessoal acaba fazendo com que toda a sociedade se recupere e passe a funcionar de maneira síncrona.

Por sob a Liderança reside ...

Abaixo da Liderança, no seu pilar mais sólido, aquela substância de sustentação encontra-se entranhada de algo fundamental para a mente humana, aquilo que a faz sadia, aquele "vacina psíquica" para toda a vida: a Autoridade.

Discutir Autoridade se tornou um tabu. O senso comum vem corroendo o significado de Autoridade e modificando-o para que se pense que ela corresponde necessariamente ao Autoritarismo, coisa completamente diversa, apesar de possui semelhança linguística com a primeira e genuína ideia de Autoridade.

A contribuição de Hanna Arendt

Depois de eventos históricos de efeito, graves e de grande repercussão, sempre surgem reações superlativas, com derivações que tendem a transformar situações especiais em regras. Depois da Segunda Guerra Mundial, e PARTICULARMENTE da fracassada Dominação Nazista, Hanna Arendt começou a sua luta contra regimes totalitários.

Mas o fenômeno Nazista foi um evento sui generis, facilitado pelas raízes Germânicas do povo alemão, alimentado pelas ideias de um império que reunisse o "povo ariano" em uma só nação e piorado pelas ideias de purificação da raça. Foi algo MUITO PARTICULAR de um POVO PARTICULAR. Em outras palavras, o povo que seguiu Hitler já tinha em seu ser a propensão PARTICULAR de seguir um ditador (melhor seria dizer Imperador).

Posso ser vista como radical e até desumana, mas a prova da generalização INDEVIDA dos teóricos inspirados por esta ativista pode ser vista nos resultados constatados hoje, no seio de uma crise mundial de Autoridade. E não é em relação só às figuras humanas que exercem a Autoridade que a crise ocorre. Ocorre também em relação às Leis, PARTICULARMENTE no Brasil, pela índole de nosso povo, que acolhe com facilidade tudo o que for FÁCIL, RÁPIDO, INSOSSO e BARATO.

As raízes da Autoridade

Indiscutível é citar que a primeira Autoridade que uma criança conhece, e que ficará gravada de forma indelével em sua memória, corresponde à figura do seu Pai, seja ele bom ou ruim, atuante ou omisso, rico ou pobre, carinhoso ou bruto. Não importa de que índole seja um Pai, ele será, para o resto da vida da pessoa, o exemplo de figura da qual se tem temor, à qual é preciso ter respeito.

Isto explica a crise atual de Autoridade. Vê-se claramente o surgimento bem cedo do conflito desta geração com a Autoridade. E a figura humana de Autoridade que se encontra mais em crise é a do professor. Professores estão sendo ameaçados e agredidos nas escolas, algo inaceitável. Existem mais "culpados" por esta crise, entre os quais podemos citar ...

A contribuição de Richard Sennet

Richard Sennet norteia suas ideias em torno da Sociologia. Sua abordagem aproxima os comportamentos daqueles que se observam em uma família.

Até nos filmes e seriados americanos de 10 anos para cá se observa a queda do mito, particularmente no ambiente corporativo, de que os empregados formam uma família. Uma vez que se quer fugir deste estereótipo, os teóricos disfarçaram a família na entidade abstrata de EQUIPE. E nesta EQUIPE, segundo Sennet, é preciso criar laços afetivos, para que os projetos tenham êxito.

Sennet fala de Autoridades legítimas e ilegítimas. Agora pensem num ambiente corporativo, que objetiva lucro, repleto de medidas de auditagem e de ouvidoria, que quer se manter como negócio, e vencer a concorrência, onde existem relações de afeto talvez 30 % familiares, ou seja, de tratamento mútuo como se fosse em família.

Existe o desejável, e existe a realidade. Nem empresas familiares são isentas de divergências nas relações entre sócios, sejam irmãos ou meio parentes. "Irmão desconhece irmão" dizia a música de Paulinho da Viola, mostrando que mesmo as associações familiares sofrem reveses e estão expostas a conflitos.

São dignas de nota suas contribuições teóricas para a construção de ambientes de trabalho produtivos.

Sua discussão sobre Autoridades legítimas e ilegítimas levaram a pensamentos que confundem a Autoridade pessoa com a Autoridade substantivo abstrato, personificada nas leis. Leis existem para ser obedecidas, até que sejam modificadas. Mas, como fruto destas polêmicas, observamos a deliberada desobediência às leis em nosso país. A Liderança por Autoridade, na pessoa de quem a exerce, está sendo questionada, como outra manifestação da crise geral de Autoridade. Esta, para ser aceita, não basta ser paternal, mas maternal.

Não se pode comparar a vida citadina com a rotina laboral em uma empresa. Empresas não são instituições democráticas. Seus regulamentos conduzem a atividade diária para produção, e não para entendimento de diferenças, para tolerância, para aceitação incondicional de incapacidades. A não produção não pode não é aceita. Existe a figura da punição, da demissão, da premiação e da promoção. Existe salário envolvido, existe lucro e também o conceito de sustentabilidade, justificação até plausível, pois sem ela todos perdem o emprego.

Subordinação

Até por interesse das organizações, como o próprio nome diz, a atividade na cadeia produtiva (estou sendo sobretudo técnica) precisa ser organizada, decomposta em tarefas,  funcionando na ordem correta, na hora correta, cada uma. Quem faz as tarefas tem uma característica de subordinação em relação a quem é cobrado no momento em que ocorre uma falha, que olha o processo "por cima", para que tudo aconteça corretamente. O trabalho pode até ser feito por equipes, mas cada uma tem que ter uma liderança, e os próprios líderes neste patamar de produção precisam ter um cabeça, que é um líder de nível HIERÁRQUICO acima, cuja responsabilidade é maior, e cada vez mais próxima daqueles que planejam tanto o processo produtivo quanto as metas a serem atingidas.

Obediência

Obediência não é um processo neste contexto. Obediência é atitude. Ela pertence ao terreno afeto à minha atividade corriqueira, e ela é que determina se a pessoa realmente vai participar com eficiência do processo produtivo exigido pela atividade empresarial. E este é o aspecto da Autoridade mais atacado nos nossos últimos tempos. Ninguém quer obedecer a outrem, e muito menos à lei. Até os altos dignitários da nossa nação já esqueceram que tem que obedecer à Lei. Esta está a seu serviço, e não à serviço da nação, é o que eles tomaram como sendo verdade, para justificar seus ganhos ilícitos.

Nas Escolas

E a Escola, berço dos primeiros comportamentos que serão exigidos nos empregos do ambiente empresarial, tem sido o palco de uma das maiores manifestações de insubordinação e desrespeito à Autoridade e desobediência explícita e declarada a estas.

É notório o ambiente hostil entre alunos e professores, pelos divulgadores de teorias que levam as pessoas e alunos a afirmarem que não gostam de receber ordens de ninguém, e que não gostam que a sua vontade seja questionada ou impedida.

Os alunos indisciplinados e com desprezo pelos estudos estão sendo enaltecidos pelos colegas. O importante é ser famoso nas redes sociais, nas brincadeiras e nas bagunças.

Conclusão

A sociedade está entrando em seu terreno mais sério de contradição e de autodestruição: o conflito e o desrespeito às autoridades. Está praticando a desobediência tanto como moda como por insegurança, incapacidade e pela falsa convicção de que não precisam de ninguém para mandar nela.

Pessoas estão procurando atividades solitárias, sem ninguém que as possa impedir de fazer as coisas como bem entendem, candidatos à solidão em sua velhice.

É o tempo do "eu me basto", "eu sou a minha própria lei". Os resultados poderemos observar no futuro, alias alguns já estão aí, em nosso meio político. Basta ler nos jornais.

sábado, 3 de fevereiro de 2018

Liderança e Tomada de Decisões

Com a proliferação de cursos e palestras, ministrados por todo e qualquer tipo de pessoa, utilizando discursos fáceis e insípidos, a discussão sobre Liderança, importantíssima para nossa sociedade industrial e institucionalizada se banalizou, e prejudicou seriamente as relações entre gestores e seus subordinados. Dominam as frases rimadas sem conteúdo, frases de efeito, e o senso comum no mais alto grau, pois na cartilha dos palestrantes está o primeiro axioma do locutor bem sucedido:

Deve-se dizer aquilo que o ouvinte consegue entender.

As pessoas estão sem paciência de pensar, então o conhecimento transmitido deve ser o mais ralo possível.

Liderança e ascensão

Na busca por uma melhoria salarial, mesmo jovens, imaturas e sem vocação, as pessoas estão buscando a liderança, os cargos, pois é mais rápido do que mostrar a sua capacidade e galgar os patamares salariais legítimos e que exigem esforço. Muitos estão assumindo lideranças sem a mínima vivência e capacidade.

Condições para assumir a Liderança

A Imaturidade, fruto ou não da falta de vivência, de alguém que chegou a um posto de liderança leva à criação constante de conflitos, pois a pessoa em questão não atende aos requisitos a seguir:


  • A pessoa entende e sabe fazer o trabalho;
  • A pessoa entende, não sabe fazer, mas sabe delegar com confiança no subordinado;
  • A pessoa é capaz de entender os vários processos da área que assumiu, pois tem capacidade intelectual e fortes princípios teóricos que a fazem capaz de entender;
  • A pessoa não possui o entendimento necessário para entender os processos da área, mas identifica e respeita quem o faz, na área que assumiu. Sua capacidade emocional é suficiente para liderar sem oprimir os empregados devido à insegurança que o desconhecimento temporário dos processos lhe poderia provocar;
  • Seu histórico de trabalho não possui eventos de opressão sobre empregados e nem de conspiração contra estes;
  • A pessoa sabe escolher parceiros com quem trabalhar;
  • A pessoa sabe mostrar falhas sem desvalorizar seus subordinados;
  • A pessoa não emite juízos sobre os empregados, pois sabe controlar o que fala, onde fala e quando fala;


Diante destes requisitos, os candidatos a liderança poderiam desanimar completamente. Estes requisitos são mais comumente encontrados em pessoas acima de 50 anos. Mas justamente a sociedade brasileira quer apostar nos mais novos, acreditando que estes, devido ao fato de provavelmente estarem mais saudáveis, suportarão ser mais exigidos.

Antes, saber obedecer

Uma história sadia e que traria boa vivência ao aspirante a cargos de liderança seria ele ter experiências anteriores com gerentes ruins. Alguém disposto a ter esta vivência aprenderia muito, principalmente se obedecesse, sem conspirar e se utilizar de subterfúgios para sobreviver. Nada de contar com a ajuda de um padrinho para contar com o beneplácito do mau gerente. Tem que ter a coragem e a resistência de passar por este mau período. Assim se forma um bom gestor.

Uma formação militar tem este aspecto de obediência, mas deve ser encarada com reservas, pois empresas não são como instituições militares 100%. Existe certo componente desta natureza na hierarquia das empresas e na ênfase no lucro, exagerada em nossos últimos tempos.

Nossos jovens entre 14 e 25 anos não estão tolerando o mando, a autoridade, objetivos, submissão, ordem e trabalho em equipe. Portanto, será muito difícil que eles tolerem a autoridade, ou possam exercer uma liderança. O material humano que passa pelos consultórios está contaminado por estes fatores, de forma flagrante.

Conclusão

Não quisemos, aqui, oferecer uma fórmula pronta de liderança. São numerosas as terapias e dinâmicas para se formar um líder com alguns dos requisitos básicos citados. Os outros podem ser desenvolvidos, e os primeiros aperfeiçoados. Não existe curso para prover maturidade, e sim condicionamento. Torna-se perigoso para o que não possui maturidade, mas é condicionado, exercer uma liderança, pois cedo ou tarde sua real personalidade vai aflorar, e ele vai perder o que conquistou.

Deixo para o leitor se manifestar com suas dúvidas, que eu as responderei com prazer.